domingo, 18 de março de 2012

Apocalipse Zumbi no Brasil

Quando George A. Romero dirigiu o seu clássico filme "A Noite dos Mortos Vivos", em 1968, revitalizando o gênero do terror, que ainda era carregado de suas raízes góticas, impôs um novo estilo de linguagem contemporânea e pseudo-documental. A única informação que os personagens isolados na casa de fazenda - e nós também - possuiam sobre o que estava acontecendo era através da cobertura televisiva. O terror gerado pelos desmortos sedentos de carne humana inaugurou uma mania que marcou a cultura pop e que permanece mais viva do que nunca no cinema e na literatura. O próprio Romero dirigiu um segundo filme, "O Despertar dos Mortos", novamente se utilizando de um cenário caótico como alusão subtendida da sociedade moderna. Se no primeiro ele faz uma ácida crítica ao racismo, neste ele aborda o expectador com uma metáfora da cultura capitalista.
A origem da manifestação dos mortos-vivos também evoluiu com o passar das décadas e, se no primeiro longa de Romero ela era resultado de uma radiação proveniente de uma sonda que retornou de Vênus, hoje o fenômeno é causado por vírus e experiências genéticas frustradas.

Com o cuidado de manter todas as características já estabelecidas pelo gênero, a narrativa de "Apocalipse Zumbi" coloca o leitor em meio a um futuro distópico cuja ordem ruiu num passado não muito distante, quando a hecatombe zumbi, de repente, eclodiu em todos os lugares do mundo. Os detalhes são revelados aos poucos através dos flashbacks de alguns personagens, no melhor estilo Lost.
A aventura se inicia com uma vítima caçada por um enorme bando de contaminados (como os zumbis são chamados aqui) que é resgatada por um grupo de batedores sobreviventes, que trafegava pelas ruas da cidade em busca de provisões para uma pequena sociedade remanescente refugiada num baluarte chamado de "Quartel". O único refúgio conhecido onde as pessoas tentam dar um tom de normalidade aparente às suas vidas.
A tentativa de socorrer a vítima dos seus perseguidores, porém, é desastrosa e os sobreviventes agora precisam aguardar o resgate, escondidos em meio às ruinas do que um dia foi a civilização, enquanto estão cercados pelas primais criaturas.

No Quartel, o líder da pequena sociedade, chamado Manes, decide liderar uma equipe de voluntários a fim de resgatar seus homens que ficaram à deriva, apesar dos severos protestos de sua esposa e dos membros do abrigo, cujo relacionamento, pontuado por atritos e discordâncias, são sempre equilibrados pela força da presença e sensatez do seu líder. Ao mesmo tempo, o grupo acaba de prestar ajuda a um novo e misterioso personagem cujas intenções já começam a ser percebidas logo nas primeiras páginas.
Não obstante as queixas, porém, Manes sai com um pequeno grupo de pessoas treinadas em combate para tentar um resgate suicida, deixando para trás um grupo cheio de facções marcado pela desesperança e com uma fina camada de civilidade que está prestes a se romper.

O livro é pontudado por diversas sequências inusitadas cheias de adrenalina e ação, não faltando os momentos excessivos de bravura de seus protagonistas. Os zumbis de Callari são ágeis, e embora destituidos de inteligência, são capazes de verdadeiras proezas para alcançar as suas vítimas. Como no filme de Romero, e de muitos outros da mesma linha, a situação só piora a cada momento, levando os personagens a níveis perturbadores de desespero e perda de humanidade.

Não faltam os clichês típicos do gênero e alusões, através de toda a narrativa, aos melhores filmes de ação dos anos de 1980 e da atualidade. "O exército de um homem só" faz juz a alguns dos heróis dessa aventura de terror e as diversas referências à cultura pop - que pululam a cada virada de página - denunciam o caráter nerd do autor, que também é tradutor, comentarista e articulista do site Pipoca e Nanquim, além de colecionador de hqs antigos.

"Apocalipse Zumbi - Os primeiros Anos", é a primeira obra do gênero escrita e publicada no Brasil (e faz parte de um projeto maior, segundo o autor), o que por si só já a torna um interessante objeto de leitura, mesmo para aqueles não apreciam o gênero. 

APOCALIPSE ZUMBI - OS PRIMEIROS ANOS
Autor: Alexandre Callari
336 páginas
Editora: Generale

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